O dia 18 de Maio é uma data conhecida na luta contra o abuso sexual infantil. Mais conhecido como “Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”, a data referencia o movimento “Faça Bonito” que visa a orientação e atuação em prol da proteção de crianças e adolescentes contra a violência sexual infantil.

Segundo a definição da Organização Mundial da Saúde (1999) o Abuso Sexual Infantil, trata-se da violência sexual contra crianças e adolescentes que consiste no contato que um adulto, por meio de relação de poder, submete uma criança/adolescente, menos de 18 anos, com finalidade de estimular e/ou satisfazer desejos sexuais, através de ameaça e/ou indução, como sedução, ofertas e/ou força física.

Estudos científicos na área e experiência clínica afirmam que episódios de abuso sexual durante a infância e/ou adolescência podem gerar consequências nos âmbitos físicos, sociais e psicopatológicos, uma vez que tais condições podem ser percussoras de quadros como Transtorno de Estresse Pós-Traumático, Transtorno Depressivo, Transtorno do Uso de Substâncias e comportamento de risco para suicídio.

No último ano (2020), mais de 17 mil ocorrências foram registradas no Brasil, mas infelizmente, não contamos com o número expressivo de subnotificações, proeminente em casos de violência sexual, tanto adulto quanto infantil. Dos dados obtidos pelo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (2020) dos abusos infantis relatados, mais de 70% aconteceram dentro do ambiente familiar.

Neste sentido, é de suma importância a construção e ampliação de serviços que possam conscientizar, acolher e mobilizar a população sobre esta temática. Para tanto, é de suma importância como os profissionais da saúde e a população civil recebe e estabelece diálogo com as vítimas. Destacamos a importância de estabelecimento de vínculos de confiança e respeito que consideram o contexto, episódios sofridos, idade, informações clínicas e vulnerabilidades presentes em cada circunstância.

Neste sentido, a Intervenção Assistida por Animais (IAA), com destaque à Terapia Assistida por Animais (TAA), se encontra como uma possibilidade de aproximação da criança/adolescente para o vínculo com o profissional de referência, uma vez que a presença do cão pode tornar o ambiente mais seguro e receptivo, a fim de parear tais sensações com a presença do profissional, proporcionando melhores condições de manejo e desenvolvimento da intervenção. Além disso, outros efeitos positivos podem ser observados como os descritos por Dietz, Davis e Pennings (2012) em mais de 150 crianças que tiveram uma diminuição significativa nos sintomas traumáticos e apresentaram redução na ansiedade, depressão raiva, dissociação e questões sexuais.

No INATAA, a presidente e psicóloga Cristiane Blanco atua em atendimentos à vítimas de violência sexual no Ambulatório de Impulso Sexual Excessivo e Prevenção dos Desfechos Negativos Associados ao Comportamento Sexual (AISEP) no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), junto ao cão coterapeuta Boris, e já acompanhou casos de abuso sexual infantil, em que a presença do Boris foi fundamental no estabelecimento do vínculo terapêutico, favorecendo seu manejo clínico.

Também dentro do INATAA, as psicólogas Cristiane Blanco, Fernanda Garcia e Laís Milani escrevam o capítulo “Novas modalidades de intervenção: Intervenções Assistidas por Animais” do terceiro volume do livro “Clínica Psiquiátrica – a terapêutica psiquiátrica” da Editora Manole (2020), em que a temática de violência sexual também é trabalhada pelas autoras.

Internacionalmente, a ONG Courthouse Dog Fundation desde 2012, treina animais para tribunais nos EUA, a fim de confortar quem foi vítima de crimes e/ou está passando por processos penais dolorosos, como o caso de episódios de violência sexual.

Para denunciar suspeitas ou conhecimento de violência sexual contra crianças e adolescentes dirija-se aos conselhos tutelares de referência, delegacias especializadas ou comuns, disque 100 ou acesse www.new.safenet.org.br para crimes na web.

Para finalizar apresentamos aspectos importantes para manter uma comunicação eficaz, de confianças e respeito com crianças e adolescentes baseados no documento elaborado pelo “Faça Bonito”:

  • Quando crianças e adolescentes confiam em você é mais fácil identificar situações de violência nas quais eles estão inseridos;
  • Estabeleça um diálogo de respeito mútuo com crianças e adolescentes próximos e fique atento/a aos sinais;
  • Leve em conta características da criança/adolescente como idade, meio informações que dispõe dos traços de sua personalidade, do que ela gosta e do que não gosta;
  • Seja empático: coloque-se no lugar da criança/adolescente para entender o que ela está sentindo e por que age daquela maneira;
  • Comunicação eficaz: fale de maneira direta para a criança/adolescente sobre o que está incomodando. Não a rotule. Escute com interesse.
  • Negocie para solucionar os conflitos: procure identificar onde estão os problemas, leve em conta o pronto de vista da criança/adolescente. Esteja aberto para ceder a ser flexível, buscando efetivamente pactuar acordos adequados e justos à situação;
  • Relações igualitárias: considere que não há privilégios, tratos ou normas especiais por ser pai, mãe ou educador. Jamais utilize argumentos humilhantes.